Quando um brasileiro ouve a palavra “político”, ele forma
instantaneamente uma imagem padrão, construída sob a égide das manchetes que o
cerca diariamente.
Escândalos, prisões, investigações, corrupções e delações premiadas,
fomentam a má fama de uma classe de pessoas que deveria, segundo Platão, serem
os guardiões da ordem na polis.
Infelizmente, a enxurrada de reincidências ilícitas faz generalizar
conceitos e confluir individualidades num coletivo que tem, por si só, um
conjunto de atributos que, no caso dos políticos, não lhe conferem confiança ou
credibilidade. Mas, como toda exceção provém de uma regra, não deve haver na
política apenas pessoas cujos rabos morais estejam pendurados nos varais dos
esquemas escusos.
Deve haver trigo nesse joio. E há!
Há duas categorias de políticos. Os políticos profissionais, que são
aqueles que fazem, obviamente, da política seu ganha-pão, e os políticos
espontâneos, ou vocacionais, que são aqueles que representam o oposto de seus
rivais.
Os políticos profissionais, pela necessidade inata de sua concepção, só
sobrevivem daquilo que suas ações políticas podem oferecer. Portanto, é natural
que seus projetos profissionais sejam elaborados com o objetivo primaz de
permanecerem em seus empregos. Entretanto, para que isso aconteça, é necessário
contar com a anuência do empregador, que no caso somos nós, os eleitores.
Eis que entra em ação sua mais contundente habilidade: o sofisma.
O político profissional tem uma habilidade ímpar de produzir discursos
retóricos, inflados de emoção e alicerçados com uma lógica aparentemente
incontestável. Daí a sua real aptidão. Não à política, mas à falácia.
São esses os politiqueiros, aglutinação oportuna das palavras “político
e trambiqueiro”, que não fazem política, fazem politicagem.
Já os políticos espontâneos têm no altruísmo a sua bússola. Nasceram com
o carma da liderança e o peso insigne de sempre priorizar a convivência
auspiciosa de toda a sua comunidade, independentemente do tamanho dela.
Os políticos espontâneos apresentam como maiores habilidades, sua
capacidade de agregar interesses, coletivizar objetivos, pregar a equidade e a
noção clara de que o bem comum contempla a todos. Esses não têm na política o
seu ganha-pão, têm nela sua aptidão e remam bravamente contra a maré
politiqueira.
Desafortunadamente, uma parcela significativa do povo não consegue
discernir um de outro e emprega, em muitos casos, talvez a maioria, os que
melhor a ilude.
A franqueza de um discurso político nem sempre é agradável a quem o ouve
e o otimismo ingênuo dos políticos vocacionais nem sempre consegue mobilizar e
engajar aqueles que, paradoxalmente, mais se beneficiariam com sua escolha.
Mas, devemos manter firme nossa esperança de que um dia possamos diferenciar
um político de um politiqueiro. Quando esse dia chegar, faremos a limpeza moral
que tanto precisamos e varreremos para debaixo do tapete histórico, esses
profissionais que representam a vergonha latente em nossa ignorância e
superficialidade.